Mais um dia.

Mais um dia. Mais decisões. Mais palavras. Mais medos. Mais uma volta. Mais um passo. Quando isso vai parar? Quando tudo desmoronar? Mais escolhas. Mais segredos. Mais borboletas. Mais mentiras. Mais uma realidade irreal. 

  "E se todo o seu mundo fosse uma mentira?" Mais tic tac. Mais gritos contidos. Mais passos freados. Mais palavras reprovadas. Mais vazios. Mais um corpo oco. Mais reprovação. Menos ação.

  E se em um passo eu cair? A queda não doerá. Não afetará. Não decodificará. Mais sonhos ridículos. Mais desejos materiais. Mais mascaras. Mais explosões oprimidas. Mais uma pessoa reprimida.

  Mais remédios. Mais olhares. Mais pulos. Mais danças. Mais máfia. Mais códigos. Mais penhasco. Menos cachoera. Mais musicas. Mais chutes. Mais socos. 

  Mais um amanhecer. Mais um vidro quebrado. Mais um corpo espatifado. E se em um gole eu adormecer? Não serei uma Bela Adormecida. Não estarei mais errada. Não verei mais um amanhecer. Não conhecerei mais uma madrugada.

  E se em um ato a lâmina passar? Não limpará o chão. Não chorará. Não esquecerá. Não presenciará. Mais repressão. Mais ditadura. Mais atos escondidos. Mais fugas. Mais corridas. Mais desesperos. 

  Mais arte. Mais censura. Mais silêncio. Mais lágrimas. Mais distanciamentos. Mais ameaças. Mais decepções. E se o gatilho for pressionado? Não haverá sofrimento. Não haverá demora. Não haverá trilha sonora. Não haverá cartas. Não haverá mais. 

  Mais um carro. Mais arrogância. Mais tapas. Mais travesseiro. Mais incapacidade. Mais vergonha. Mais gritos. Mais estética. Mais estereótipos. Mais rupturas. Mais padrões. Mais explosões. Mais covardia. Mais forcas. Mais julgamentos. Mais falsidade.

  E tudo se recomeça. E tudo se reinicia. Em um dia coberto, por uma realidade irreal.